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Os "rios voadores" da Amazônia

Gilberto C. Oliveira
18 de setembro de 2019

Todos sabem que a Amazônia é uma floresta tropical de grande extensão, com cerca de 6,7 milhões de km², quase a metade (49%) localizada em território brasileiro. A Amazônia abriga a maior biodiversidade do mundo.  Diante disto não é difícil imaginar o quanto a diversidade de flora e fauna deste bioma é riquíssimo e variado, sendo, até então, encontrados 53 ecossistemas. Além disso, a Amazônia abriga o maior sistema fluvial do planeta, a bacia do Rio Amazonas, que ocupa um território de quase 7 milhões de km² e com um volume que corresponde à 20% da água doce mundial disponível. Falar desse bioma nos enche de orgulho, ao se pensar nas suas riquezas naturais – como as plantas medicinais, alimentícias e úteis, além do conhecimento tradicional dos povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas - e na sua importância para a manutenção do clima mundial. Ao mesmo tempo, nos preocupa o descaso das autoridades quanto a preservação da floresta.  O agronegócio, a extração ilegal de madeira, o fogo, o homem estão destruindo a Amazônia.


Quando paramos para observar e estudar o funcionamento da floresta amazônica passamos por diversos processos que acontecem dentro deste bioma para mantê-lo vivo e funcionando, sendo a maioria deles processos com características muito particulares. A vegetação está relacionada com a atmosfera a partir do momento em que uma exorbitante quantidade de árvores é responsável, através de processos físico-químicos, por influenciar na formação e na quantidade de nuvens e vapor de água no ar.


Uma das dessas relações se dá através dos chamados “rios voadores”, termo diferente e que provoca estranheza principalmente para àqueles que desconhecem o quanto a floresta influencia em nossos cotidianos, até mesmo para as pessoas que vivem no sul do país há quilômetros de distância. Mas então o que são esses rios? São nuvens de água formadas na atmosfera da região amazônica e que percorrem um caminho invisível se espalhando pelo resto do país. Isso acontece a partir do momento em que as árvores da floresta amazônica bombeiam as águas das chuvas torrenciais e constantes da região para a atmosfera por um processo de evaporação, causada pelas elevadas temperaturas tropicais, dessa água que fica retida na copa das árvores, formando massas de ar que serão carregadas pelo vento para outros lugares. Parte destes rios, inclusive, chegam até a Cordilheira dos Andes e logo em seguida são redirecionados às regiões do Centro-Oeste, Sudeste e Sul, onde podem influenciar no tempo das regiões, por exemplo, causando chuvas. Vejam só uma pequena perspectiva de como esse bioma é de extrema importância e é necessário manter a floresta viva e em pé.


O ano de 2019 está sendo marcado pelo aumento dos incêndios em grande parte da floresta amazônica. Nos meses de agosto e setembro ocorrem queimadas na região, que geralmente são comuns, mas este ano estão fora de controle. Há uma explicação para isso: nesses meses o clima extremamente quente e seco contribui para as queimadas naturais em alguns pontos do estado do Amazonas. Aproveitando-se da situação, muitos fazendeiros e donos de terra abrem espaços para desenvolvimento de atividades relacionadas à agropecuária. Mas em 2019, segundo o INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, chamou-se a atenção para o aumento de registros de incêndios em comparação ao mesmo período em 2018, sendo um aumento de 84% de registros, o maior em sete anos. Um dos fatos marcantes aconteceu no dia 19 de agosto de 2019 na capital de São Paulo, onde às 15 h da tarde “anoiteceu” e o céu ficou totalmente escuro, sendo um dos assuntos mais comentados nas redes sociais. O pesquisador do INPE Antônio Nobre foi preciso ao dizer que as queimadas amazônicas foram as responsáveis pelo céu escuro na tarde paulista, já que também foram encontrados indícios de contaminantes de queimadas em análises de água daquele dia.


O tom de preocupação sempre se faz presente ao nos atentarmos para a história da ocupação do território amazônico. Suas riquezas que se refletem na vegetação, nos rios, na cultura local, chamam a atenção dos olhares de todo o planeta e isso a torna vulnerável em diversos sentidos. É necessária uma apropriação do conhecimento deste lugar por nós brasileiros e maior posicionamento frente à tanta cobiça que derruba a floresta, colhe e transforma tudo em produtos e se rende ao imediatismo.

Cabe uma reflexão se quisermos que a população futura veja uma sumaúma (Ceiba pentandra (L.) Gaertn., Malvaceae)  exuberante com seus 50 metros de altura pessoalmente ou somente através de uma tela digital.

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